Existem algumas estratégias que podem ser utilizadas no momento em que você decide começar a investir. Quando falamos em ações, as duas estratégias mais conhecidas que podemos citar são:
- Estratégia de curto prazo, através de especulação do mercado e análise técnica. Objetivo é comprar algum ativo por um preço e se desfazer dele quando chegar a um determinado preço alvo;
- Estratégias de longo prazo conhecidas por value investing e buy and hold, que visam encontrar empresas de bons fundamentos e boas estratégias, que estejam sendo negociadas a um preço inferior ao seu valor, olhando sempre para o longo prazo. Objetivo é tornar-se sócio da empresa e acompanhar seu crescimento ao passar do tempo.
Investimentos devem ser realizados com propósitos, não apenas olhando números de entrada e saída em alguma posição. Por isso faz muito sentindo possuir uma estratégia baseada em investimentos de valor, aumentando o patrimônio na medida em que as empresas crescem e visando o longo prazo para que isso possa acontecer.
Investir para o longo prazo não é esquecer as ações da carteira
Porém muitos investidores acreditam que focar no longo prazo, é esquecer as ações que estão na sua carteira eternamente, sem nunca estudar como está a empresa ou analisar a necessidade de se desfazer delas. Talvez esse seja um dos maiores erros de quem está iniciando nesse mundo dos investimentos.
Antes de tudo, é fundamental entender o motivo que fez você como investidor tornar-se sócio de uma empresa e adquirir uma ação. Vamos começar dando o exemplo de uma empresa bastante conhecida no mercado: Magazine Luiza.
A empresa realizou seu IPO em abril de 2011, momento em que a concorrência varejista estava bastante acirrada. O IPO tinha como principal foco a abertura de novas lojas e a aquisição de concorrentes no setor eletroeletrônico, seguindo seu mantra: “No varejo, expansão é necessidade e aquisição é oportunidade”. Porém entre 2011 e 2015 a empresa apresentou uma desvalorização de 93,52%.
O principal ponto que o investidor deve entender, é o motivo que causou a desvalorização da empresa e o que a mesma estava realizando para enfrentar esse problema. No ano de 2014 tivemos uma séria crise no Brasil, que durou até meados de 2017, afetando e muito, os negócios da companhia. Mas em 2015 a empresa investiu em tecnologia e inovação, conseguindo reverter sua desvalorização, mesmo em um cenário econômico pessimista. Atualmente a empresa é o maior marketplace do Brasil, apresentando uma valorização de aproximadamente 700 vezes nos últimos 5 anos.
Nesse cenário específico, podemos observar alguns pontos importantes e determinantes, o principal fator é o investidor conhecer a empresa em que investiu, entender sobre sua gestão, se as atitudes tomadas pela empresa estão de acordo com as estratégias traçadas e os resultados estão alinhados a isso. Em paralelo, o investidor precisa ter paciência para que as estratégias gerem resultados. Por fim, e não menos importante, o investidor pode traçar um percentual máximo que a empresa pode ocupar da sua carteira.
A cada vez que a empresa atinge esse percentual, o investidor realiza o balanceamento da sua carteira. Efetua assim a venda das ações que excederem o percentual definido, e aloca os recursos nas outras ações do seu portfólio, a fim de deixar sempre balanceado os percentuais propostos. Dessa forma, o investidor realiza parte dos lucros da empresa que ultrapassou o percentual definido, porém mantém ela em carteira, e compra mais ações das empresas que possivelmente estão sendo negociadas a um preço inferior ao seu valor.
A situação descrita acima é um dos momentos em que o investidor deveria realizar a venda de suas ações.
Agora vamos exemplificar um fato que ocorreu com as ações da empresa Burger King, exemplificando o contrário do que acabamos de ver.
A empresa Burger King é uma marca forte, reconhecida e consolidada no Brasil. Realizou a abertura do seu capital em bolsa no ano de 2017 e possuía como principal plano, a compra de uma outra empresa do segmento de restaurantes, com uma rede de franquias já bem estruturada. Além disso, tinha como estratégia, a expansão das suas lojas, para que fosse possível gerar maior receita de forma orgânica. Na ocasião e ainda hoje, seu maior concorrente é o McDonald ‘s, que também é líder de mercado no segmento.
O que ocorreu foi que a receita do Burger King teve bons resultados por conta da incorporação das franquias da empresa adquirida, porém ao participar de campanhas de marketing agressivas contra seu principal concorrente, deixou de vender o produto que gerava lucro: batatas fritas.
As campanhas de marketing apelavam para descontos nos hambúrgueres, e com os descontos oferecidos, os consumidores deixaram de comprar o combo completo, composto por hambúrguer, refrigerante e batata frita, e passaram a comprar apenas o hambúrguer na promoção. Aos poucos a empresa Burger King foi reduzindo sua margem de lucro e mesmo com um elevado faturamento, não conseguia aumentar seu lucro. Se seu faturamento continuasse aumentando, passaria a apresentar prejuízos. Como consequência, suas ações também foram caindo.
Por qual motivo o investidor decidiu tornar-se acionista da empresa?
Neste momento, o investidor deve avaliar o que fez com que ele investisse em Burger King, qual era a estratégia que a empresa tinha, e entender que ela não estava seguindo as estratégias propostas. A conclusão é que faz mais sentido o investidor se desfazer das ações, mesmo que esteja com algum tipo de prejuízo.
Você deve estar se perguntando: “Devo me desfazer das ações, apenas quando elas voltarem ao preço que comprei?”
A resposta é muito simples: Não. A ação não deve nada a você. Ela pode nunca mais chegar ao preço que você adquiriu. Se a empresa não está seguindo a rota que deveria seguir e “se perdeu” no meio do caminho, não faz sentido mantê-las em sua carteira de investimentos.
Muitas vezes o investidor que segue a filosofia buy and hold, esquece de acompanhar as decisões e o andamento das empresas que é sócio, acreditando que o termo “hold” significa segurar eternamente sua posição. Talvez o nome mais adequado para a estratégia deveria ser buy and homework, porque além de focar no longo prazo, o investidor deveria sempre fazer o seu dever de casa e acompanhar seus ativos.
Mas afinal, quando devo vender minhas ações?
Resumindo o conteúdo abordado, o investidor poderia se desfazer das suas ações em algumas situações. Uma dessas situações, é quando o investidor calcula o peso que cada ação deve ter em seu portfólio em forma de percentual, e caso o preço dessa ação tenha uma alta muito expressiva, o percentual definido ficaria desenquadrado. Quando isso acontecer, o investidor poderá realizar a venda das ações que estão fora do enquadramento do percentual definido.
Uma outra situação, seria quando a empresa para de seguir as estratégias que fizeram com que o investidor se tornasse sócio da empresa. Causando prejuízos financeiros à empresa e ao investidor.
Por fim, caso a empresa venha a ser negociada a um preço muito maior que seu valor, demonstrando uma assimetria muito elevada, o investidor poderia realizar a venda da sua posição acionária.
