O consórcio é uma invenção brasileira surgida nos anos 1960 entre funcionários do Banco do Brasil. Na época, uma grande montadora havia se instalado no país, mas a oferta de crédito direto ao consumidor era muito pequena. Pensando nisso, os funcionários do banco se uniram e começaram a pagar pequenas parcelas que formariam um fundo para aquisição de um veículo. Na dúvida sobre quem ficaria com o primeiro carro, decidiram sortear.
Hoje, a máxima continua – simplificadamente – a mesma, sendo que agora o cliente também pode dar um lance em seu consórcio. A Abac (Associação Brasileira Administradoras de Consórcios) confirma que o consórcio teve sua origem ligada diretamente à indústria automobilística, e que durante muito tempo foi o automóvel seu único produto. Na mesma década, o assunto chamou a atenção do governo, que estabeleceu ao lado dos bancos, normas sobre depósito de recursos captados de consorciados, além da criação da associação que representa os interesses das empresas ligadas ao assunto.
Só nos anos 1980 que outros produtos passaram a ser contemplados com o consórcio, como máquinas agrícolas, motos, caminhões, e até eletrônicos, como TV e videocassetes.
Como funciona
O consórcio é um método de compra que se baseia na união de pessoas que buscam poupar para adquirir algo, sejam móveis, imóveis ou serviços. Esses grupos de pessoas físicas ou jurídicas são formados por administradoras de consórcios, que por sua vez são fiscalizadas pelo Banco Central.
Essa modalidade, é muitas vezes confundida com investimento, porém erroneamente. O consórcio pode ser utilizado sim como um artifício para o consumidor poupar o recurso, quando este não tem o hábito de poupar. Ou até mesmo adquirir o bem, antes de possuir o valor completo (nos casos de ser sorteado antes do encerramento do grupo). Porém o consórcio não é um produto de investimento.
A dinâmica do consórcio funciona da seguinte forma: As parcelas pagas pelos consorciados, são depositadas em um fundo comum até o recurso acumulado ser suficiente para um deles ter acesso ao valor da carta de crédito adquirida. Esse é o documento que dá acesso ao dinheiro guardado, e o consorciado pode ter sua carta de crédito contemplada através de sorteio ou pagando o maior lance (percentualmente). Mesmo que o consorciado não dê lance, ou não seja sorteado no decorrer do grupo de consórcio, todos os consorciados terão direito ao valor da carta, de acordo com o prazo de vencimento contratado.
Caso o consorciado seja contemplado com sorteio, ele pode adquirir o bem da mesma classificação da sua carta, podendo ser carro, moto, caminhão, imóvel e até mesmo algum serviço.
Alguns planos também permitem que o consorciado dê lances, e quem vencer, ao pagar o valor do lance, pode usar o dinheiro para reduzir o valor da sua parcela mensal ou a quantidade de parcelas a vencer. Detalhe que cada consorciado pode ser sorteado apenas uma vez, e continua pagando o consórcio até o fim do prazo. Durante esse período, o bem que ele adquire fica alienado em nome da administradora do consórcio. Se o contemplado deixar de pagar as parcelas, o bem é tomado pela administradora.
Consórcio não cobra juros
O pagamento deste consórcio é definido pelo valor da carta de crédito dividido pela quantidade de parcelas. No montante são acrescentadas as taxas de administração para gerir o grupo e o percentual do fundo de reserva, que pode vir a suprir alguma emergência (desistências ou inadimplências, por exemplo). O ideal é pesquisar bastante, pois o valor dessas taxas podem chegar em até 25% do valor contratado. Uma dica importante é manter o preço final dentro de suas possibilidades financeiras.
Certamente você estranhou que a palavra “juros” não apareceu até o momento. Pois essa é uma das vantagens de fazer um consórcio. Não existem juros compostos nessa modalidade. Apenas as taxas mencionadas anteriormente e o ajuste das parcelas de forma anual, por diferentes índices, de acordo com o bem a ser adquirido. Isso acontece para manter o poder de compra do grupo durante o período do consórcio.
Para exemplificar essa correção das parcelas por algum índice, vamos tomar como exemplo a tabela FIPE de alguns automóveis, que entre os anos de 2019 e 2021 sofreram uma grande valorização. Quem adquiriu uma carta de consórcio em 2019 para comprar um Onix da Chevrolet, por exemplo, e ainda não foi contemplado, certamente em 2021 não conseguiria comprar o mesmo veículo, se as parcelas dos consorciados não fossem reajustadas.
Para iniciar um consórcio, diferente do financiamento, não é preciso dar entrada. Outra vantagem é que à vista é possível negociar e ter uma margem de desconto maior no comércio. Com a carta de crédito em mãos, negocie o que for melhor para você.
Flexibilidade do contrato
O consórcio tem uma flexibilidade de crédito que outros produtos, como o financiamento, não tem. Quando você for contemplado, pode usar a carta para qualquer bem da categoria, seja outro modelo de carro, que não seja o atribuído à carta ou outra classe. Além disso, se o veículo escolhido for mais barato que o valor do contrato, esse dinheiro pode ser usado para quitar as parcelas restantes do consórcio.
Ao contratar, é importante saber a quantidade de membros do grupo do consórcio e a frequência dos sorteios e de lances. Se por algum motivo você desistir do consórcio, poderá tentar repassá-lo a alguém, caso as condições da administradora permitam a troca de titularidade. Se não puder fazer essa mudança, será possível resgatar o valor pago até a data da desistência e aguardar o prazo do consórcio ser finalizado. O dinheiro fica com a administradora até o fim do período estabelecido.
Algumas administradoras ainda tem modalidades de consórcio mais baratas, e, com a desistência, pode ser possível reduzir o valor da carta de crédito. Com isso, a diferença pode ser utilizada para quitar parte do saldo devedor ou reduzir o valor das parcelas.
Atenção ao escolher a administradora
A crise na indústria automobilística e a alta na inflação fizeram o número de consórcios subir em 2021. Segundo dados da Abac, no mês de setembro, o setor atingiu um número de 4 milhões de participantes ativos, registrando um aumento de 6,3% em relação ao mesmo mês em 2020.
Porém, os golpes financeiros estão muito em alta. Via ligação telefônica ou mensagens, criminosos entram em contato e oferecem diversas vantagens de crédito consignado e consórcio. É preciso ter atenção ao escolher a administradora do grupo de consórcio. Consulte o Banco Central, que é o órgão responsável por fiscalizar e autorizar esse produto. Caso conheça algum cliente da instituição financeira, converse e entenda se aquelas diretrizes vão se encaixar com as suas.
Ao fechar um contrato, leia todos os detalhes, esteja ciente de seus direitos e de todas as taxas e situações que podem passar a vir acontecer. Um advogado pode sanar suas dúvidas em qualquer cláusula.